COP30 começa oficialmente nesta segunda; saiba o que está em jogo e o que esperar da conferência sobre a crise do clima
Expedição que percorreu o Rio Amazonas chega a Belém para a COP30 A 30ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP30, começa o...
Expedição que percorreu o Rio Amazonas chega a Belém para a COP30 A 30ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP30, começa oficialmente nesta segunda (10) em Belém, no Pará. O evento deve durar cerca de duas semanas e tem um peso fundamental para a ação global contra as mudanças do clima, cada vez mais necessária visto os recentes episódios climáticos extremos no Brasil e no mundo. Por isso, cinquenta mil pessoas estarão em Belém nos próximos dias: diplomatas, governantes, ativistas e indígenas, cientistas, CEOs de empresas, entre outros. A Cúpula de Líderes, realizada entre quinta (6) e sexta (7), deu o tom do que deve dominar as negociações da COP30. Os recados políticos foram claros: acelerar a transição energética, fortalecer o financiamento climático e proteger as florestas tropicais. Agora, a expectativa se volta para Belém. É na cidade, nessa primeira COP na Amazônia, que esses compromissos terão de sair do discurso e virar plano concreto, com metas, prazos e recursos definidos. Mas o que é de fato a COP, qual a sua importância e o que será discutido na cúpula desse ano? Abaixo, nesta reportagem, você vai ver: O que é a COP30? O que deve ser discutido na COP30? Qual a expectativa do governo Lula na COP30? Quem é o responsável por fazer a COP30 dar certo? Quais resultados são esperados da COP30? a COP30 e nosso futuro 1) O que é a COP30? A COP30 é 30ª conferência do clima da ONU, um evento que reúne governos do mundo inteiro, diplomatas, cientistas, membros da sociedade civil e diversas entidades privadas com o objetivo de debater e buscar soluções para a crise climática causada pelo homem. A conferência vem sendo realizada anualmente desde 1995 (exceto em 2020, por causa da pandemia) e o termo COP é uma sigla em inglês que quer dizer "Conferência das Partes", uma referência às 197 nações que concordaram com um pacto ambiental da ONU no início da década de 1990. O tratado, chamado de Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), tem como principal objetivo estabilizar a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e, assim, combater a ameaça humana ao sistema climático da Terra, cada vez mais evidente nos últimos meses. Nos últimos anos, por exemplo, o número de tornados registrados no Brasil vem aumentando. Aliado a isso, segundo o observatório europeu Copernicus, outubro de 2025 foi o terceiro outubro mais quente já registrado no planeta, com uma temperatura média global de 15,14 °C — 0,7 °C acima da média de 1991 a 2020 e 1,55 °C acima do período pré-industrial. Por causa desse recorde e de meses anteriores, 2025 deve encerrar entre os três anos mais quentes da história. Pessoas posam para fotos em frente ao local da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), neste sábado (8), em Belém (PA). AP Photo/Fernando Llano 2) O que deve ser discutido na COP30? As discussões em Belém se concentram em três grandes eixos: transição energética, adaptação climática e financiamento. Na frente da transição energética, o Brasil pretende liderar a construção do chamado “mapa do caminho”, uma expressão usada para definir o roteiro político e técnico que vai estabelecer etapas, prazos e responsabilidades de cada país na substituição do petróleo, gás e carvão por fontes renováveis e eficiência energética. ⚡ENTENDA: A transição energética é um dos grandes temas da COP30. Ela sintetiza um dos maiores desafios das próximas décadas: transformar a forma como o mundo produz e consome energia, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e ampliando o uso de fontes renováveis. A meta é garantir que a transição seja justa, ordenada e equitativa, levando em conta as diferentes capacidades e responsabilidades das nações. Essa será uma das principais frentes de trabalho da presidência brasileira, que quer transformar o acordo firmado em Dubai na COP28 em um plano com metas e mecanismos verificáveis, e não apenas um compromisso político. “Estamos à beira de pontos de inflexão climáticos e da potencial perda da Amazônia, então, esta COP precisa, simplesmente, promover a mudança urgente necessária. Não há segunda chance e tudo começa com os líderes, que devem dar à COP30 um mandato claro para fechar a lacuna da ambição de 1,5°C", avalia Carolina Pasquali, diretora executiva do Greenpeace Brasil. Outra discussão central é o Objetivo Global de Adaptação (GGA), um instrumento que pretende medir o quanto os países estão se preparando para os impactos do clima. A proposta faz parte do Marco UAE–Belém para Resiliência Climática Global e é vista como essencial para avaliar quem está conseguindo se adaptar e quem ainda está ficando para trás. O desafio, no entanto, é garantir recursos estáveis e previsíveis para que o sistema não se torne apenas um ritual simbólico. "É fundamental que a ambição não se limite às ações de mitigação — ela também deve envolver a entrega efetiva de recursos", avalia Vaibhav Chaturvedi, pesquisador sênior do Council On Energy, Environment and Water (CEEW). No campo das finanças, os países em desenvolvimento chegam a Belém com uma reivindicação clara: a crise climática não pode continuar sendo tratada como algo separado da economia global. O desafio da conferência será dar conteúdo ao Roteiro de Baku a Belém, plano que busca mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2035, com juros baixos, mais doações e menos endividamento. Esse ponto será decisivo para definir o sucesso da COP, já que sem financiamento em escala, metas de descarbonização e adaptação se tornam inviáveis. Além desses três eixos, temas como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), o fortalecimento dos mercados de carbono e o debate sobre racismo ambiental também devem ter destaque. 🌳 💵 O QUE É O TFFF: O fundo é um mecanismo financeiro proposto pelo Brasil que usa um modelo de investimento de renda fixa para gerar recursos destinados à conservação de florestas tropicais. Não se tratam de doações. O lucro das aplicações será usado para remunerar países que mantêm suas florestas em pé, com prioridade para nações como Brasil, Indonésia e Congo. A conferência será o espaço para discutir como integrar justiça social e justiça climática, e para alinhar mecanismos que tornem a transição energética global realmente inclusiva. Flotilha indígena chega a Belém (PA) neste domingo (9), às vésperas da COP30, trazendo representantes de diversos países da América Latina para a conferência do clima da ONU. Na lateral do barco, uma faixa com os dizeres “Amazônia livre de petróleo”. REUTERS/Adriano Machado 3) Qual a expectativa do governo Lula na COP30? A expectativa do governo Lula na COP30 é consolidar o Brasil como protagonista global da agenda climática e como mediador entre o Norte e o Sul Global. O país chega a Belém com a missão de mostrar resultados concretos em transição energética e proteção florestal, e de reforçar seu papel político como anfitrião da conferência. O discurso do presidente Lula durante a Cúpula de Líderes deixou clara a estratégia brasileira: defender uma transição energética justa, capaz de equilibrar o avanço das energias renováveis com a valorização dos combustíveis sustentáveis. O governo aposta no Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis, o chamado Belém 4X, como uma vitrine desse posicionamento. A iniciativa, co-patrocinada por Brasil, Itália e Japão, busca quadruplicar o uso global de combustíveis sustentáveis até 2035, com acompanhamento anual da Agência Internacional de Energia (AIE). Na visão do Planalto, a eletrificação sozinha não é suficiente para descarbonizar setores intensivos como transporte pesado e indústria, e por isso o país aposta em hidrogênio verde, biogases, biocombustíveis e combustíveis sintéticos como parte da solução. Ao mesmo tempo, o governo quer usar a COP30 para consolidar o TFFF como um modelo inovador de financiamento climático. Como funcionam as discussões da COP, a conferência do clima da ONU O fundo, proposto pelo Brasil, busca gerar recursos de forma permanente para países que mantêm suas florestas em pé, com base em investimentos de renda fixa e não em doações. O anúncio de aportes de mais de US$ 5,5 bilhões foi recebido como um sinal político importante de que o país pretende transformar conservação em oportunidade econômica. Mas o governo também enfrenta críticas e dilemas. Organizações da sociedade civil alertam que apostar em combustíveis sustentáveis não pode substituir o esforço de reduzir o uso de petróleo, sob o risco de adiar a transição energética. Além disso, o licenciamento de blocos de petróleo na margem equatorial poucos dias antes da conferência gerou cobranças de coerência em relação ao discurso de descarbonização. "O sinal político do discurso de Lula é muito positivo, ao colocar na mesa o que deve ser o tema central da COP — implementar a decisão de Dubai de abandonar os combustíveis fósseis", diz Cláudio Ângelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima. Internamente, o Palácio do Planalto vê a COP30 como uma oportunidade de reafirmar o Brasil como ponte diplomática e de projetar a imagem do país como líder dessa transição energética que não exclui países em desenvolvimento. A expectativa é que Lula use a conferência para pressionar os países ricos por mais financiamento climático e por regras mais justas de acesso a crédito verde, reforçando o papel político que o Brasil quer desempenhar nas próximas décadas. "Sabemos que será difícil avançar nesse tema, mas uma COP que não fala de fósseis falha em seu propósito. As palavras importam — e Lula, como anfitrião, deu à presidência brasileira o mandato político de que precisava", acrescenta Ângelo. O secretário-geral da ONU, António Guterres, caminha ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a abertura da plenária da Cúpula do Clima, parte da COP30, em Belém (PA), em 6 de novembro de 2025. REUTERS/Adriano Machado 4) Quem é o responsável por fazer a COP30 dar certo? A resposta não cabe a uma única pessoa. A conferência mobiliza milhares de representantes de governos, organizações, empresas e da sociedade civil em busca de consensos que ajudem a enfrentar a crise climática. Ainda assim, há lideranças-chave nessa engrenagem. LEIA TAMBÉM: 'Empresas como a Petrobras têm que deixar de ser apenas de exploração de petróleo', diz Marina Silva Na linha de frente está o embaixador André Corrêa do Lago, nomeado como presidente da COP30. É dele a tarefa de mediar as negociações entre mais de 190 países e tentar costurar um texto final equilibrado — que contemple os interesses de governos, ambientalistas e empresas, sem travar os avanços necessários. Ao lado dele, Ana Toni, diretora-executiva da conferência, responde por garantir o bom funcionamento de toda a estrutura. Cabe a ela coordenar agendas, garantir que os temas prioritários entrem na pauta e que os grupos de trabalho avancem conforme o cronograma. Nas conferências da ONU, os dias são intensos. Começam com reuniões técnicas entre delegados, passam por encontros de alto nível com ministros e podem terminar com decisões políticas tomadas por chefes de Estado. Tudo isso precisa seguir uma ordem bem definida, com os documentos sendo negociados, revisados e finalizados antes do prazo — que, em geral, é curto e apertado. A ministra Marina Silva e o embaixador André Corrêa do Lago em reunião ministerial de Clima, Energia e Meio Ambiente do G7. Felipe Werneck/MMA 5) Quais resultados são esperados da COP30? Os resultados esperados da COP30 vão muito além de declarações de intenção. A conferência é vista como um marco decisivo para transformar o consenso político construído desde Dubai em ações concretas e mensuráveis, capazes de recolocar o planeta na rota do limite de 1,5°C. O primeiro resultado esperado é o avanço em torno das metas climáticas (NDCs). Até agora, pouco mais de 100 países enviaram suas novas metas para 2035, mas a maioria ainda está muito aquém do necessário. Hoje, as metas em vigor cobrem apenas 30% das emissões globais e levariam a uma redução de 4% até 2035, quando a ciência aponta que seria preciso cortar cerca de 60% para estabilizar o clima. O Brasil e outros países esperam que Belém seja o espaço para reabrir o ciclo de ambição, com compromissos mais fortes, prazos definidos e mecanismos de revisão mais rigorosos. "Os discursos são bem-vindos, mas precisamos que isso vire compromisso formal: que os países que ainda não entregaram, entreguem, e que os que entregaram pouco, revejam e melhorem suas metas”, afirma Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima. Outro resultado esperado é que a conferência consiga dar forma ao “mapa do caminho” da transição energética. 🗺️ 🛣️ ENTENDA O TERMO: “Mapa do caminho” ou roadmap (em inglês) é o termo usado em negociações internacionais para designar planos de ação que estabelecem etapas, prazos e metas concretas rumo a um objetivo comum. Na prática, trata-se de um roteiro político e técnico que define “quem faz o quê, até quando e com quais recursos”. Durante a pré-COP em Brasília, a ministra Marina Silva foi direta ao afirmar que “não existe como falar de COP da implementação se não tivermos os meios para isso”. Segundo a ministra, os países precisam garantir recursos financeiros, humanos e tecnológicos para viabilizar as metas de redução de emissões e de adaptação ao clima. LEIA TAMBÉM: Como as mudanças climáticas já afetam o cotidiano no Brasil Preços de hospedagem caem quase 50% em Belém às vésperas da COP 30, aponta Airbnb Cúpula de Belém surpreende ao trazer de volta o petróleo para o foco das negociações da COP Qual é o papel da China na crise climática?